Mad Men | Confira a análise completa da série

Mad Men | Confira a análise completa da série

ANÁLISE MAD MEN: A SÉRIE PROFUNDA E COMPLEXA

Mad Men é uma conhecida série de drama da AMC criada por Matthew Weiner – um dos criadores de Sopranos. Ela conta a história de Don Draper (Jon Hamm) um bem sucedido publicitário dos anos sessenta. A série se divide entre a vida de Draper no escritório de publicidade onde trabalha com seus colegas e sua vida pessoal ao lado de sua família. Entretanto a série também nos apresenta os dilemas dos demais personagens ao seu redor.

1. PERÍODO HISTÓRICO

A história se passa ao longo dos anos sessenta e conta um design de produção, roupa e maquiagem primorosos. Os cenários são bem aproveitados e fazem parte primordial no que está sendo contado. O realismo está em cada vestido, em cada terno, em cada penteado. A ambientação conversa com os personagens e com a história: os escritórios formais, os bares esfumaçados pelos cigarros e as belas casas mais afastadas da cidade.

Os anos sessenta marcaram um período de transição estadunidense. O sonho americano era manchado pelas crises urbanas raciais, o assassinato de um presidente, guerra do Vietnã. A série não poupa os principais acontecimentos da história no período: os Beatles, a morte de Martin Luther King e a onda hippie. Em escala maior ou menor, tudo acrescenta ao que está sendo contado.

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2. DON DRAPER

Don Draper é a própria exemplificação de homem ideal da época. Alto, vigoroso, confiante, rico e asseado. Admirado pelo status social e por ter defendido seu país em guerra. Vive o sonho americano da altura sexagenária do século XX: Uma jovem e bela esposa recatada e do lar mãe de filhos que estudam nas melhores escolas.

Seria fácil imaginar que um homem com essa vida fosse feliz. Mas a verdade é que Draper não o é. É perturbado com uma infância difícil. Seu nome de verdade é Dick Whitman, filho de uma prostituta que morreu em trabalho de parto e um fazendeiro alcoólatra que morreu por um coice de cavalo quando Dick tinha dez anos. Whitman foi criado pela segunda esposa do seu pai que o maltratava. Ele cresceu em um bordel, assim como seu meio irmão Adam Whitman.

Dick serviu o Exército na Guerra da Coréia, porém seu tenente encarregado Don Draper (o verdadeiro) foi morto em uma explosão causada por acidente pelo próprio Whitman, ficando deformado. Dick trocou a plaqueta de identificação dele com o do cadáver, fazendo uma permuta de identidades. Dessa forma, sua família imaginou que o cadáver fosse do jovem que, por sua vez, tomou para si a identidade de Don Drapper e deixou para trás a vida no interior e partiu para a cidade grande: Manhattan, tendo recebido uma medalha militar que não o pertencia.

O novo Don Draper é revendedor de carros usados. Porém, a viúva do verdadeiro Draper o encontra e o antigo Dick assume a farsa. Então, Don e a viúva Anna viram amigos muito próximos e confidentes.

Don sente que sua vida “perfeita” não o pertence. Ele é distante da própria realidade, não considerando-se merecedor dela. Por isso, se distrai com um estilo de vida workaholic que bebe muito e tem muitas amantes. Ao longo das temporadas vemos a vida de Draper avançar em direção ao futuro enquanto conhecemos melhor o seu passado e o que faz ser quem é.

3. VIDA PROFISSIONAL

O trabalho de Don é ser Diretor de Criação da agência de publicidade Sterling Cooper. Draper é bom em lidar com as pessoas, conhece os seus desejos e usa isso a seu favor ao criar propagandas para as marcas de empresas.

Enquanto lida com os próprios demônios, Don analisa o mundo ao seu redor. O que dialoga bem com o período de mudança pelo qual passa os Estados Unidos. Tudo isso para que ele possa entender as tendências de gostos das pessoas e atrai-las para seus clientes. Vide o momento em que ele pergunta a uma jovem o porquê dela ser fã dos Beatles.

O trabalho paga bem e permite certos luxos como jantares caros e viagens de primeira classe. A aparência e o status é algo importante principalmente no contexto da série e, por tanto, algo intrínseco ao trabalho de Don. Ser visto com uma bela esposa faz parte do que requer o emprego.

4. VIDA PESSOAL

Draper vive num belo e saudável lar com sua esposa e filhos. Porém a grande quantidade de trabalho e os encontros extra conjugais não o tornam num pai e marido ausente, mas sim um tanto quanto distante o que na época era muito normal. O provedor não tinha a obrigação de estar sempre diretamente ligado ao que acontecia no lar além do que lhe era contado à mesa de jantar.

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5. PERSONAGENS

Todos os personagens de Mad Men são realistas, complexos e detentos de camadas, como toda série de drama que se preza deve ter. Porém irei separar aqui, fora o próprio Don, aqueles que mais se destacam:

Peggy Olson (Elizabeth Moss): Peggy começou como a tímida e submissa secretária de Don, mas que logo teve o seu talento para a publicidade notado. E mesmo sendo uma mulher e sendo uma jovem nos anos sessenta, ganhou um cargo de importância na empresa e virou a aprendiz de Don. Após o próprio Don, é a personagem mais bem aprofundada da série e a que teve a melhor evolução do estágio A para o B.

Mad Men - Confira a análise completa da série - Peggy Olson

Sally Draper (Kiernan Shipka): A filha mais velha de Don é a que tinha mais idade dentre os irmãos para acompanhar os dilemas do pai e da mãe. Tem personalidade forte, o que faz com que brigue muito com a mãe. É grande admirador do pai e teve o processo de amadurecimento muito bem trabalhado ao longo das temporadas.

Mad Men - Confira a análise completa da série - Sally Draper

Roger Sterling (John Slattery): O primeiro chefe de Don no mundo da publicidade e o responsável por polir o talento de Draper. É muito semelhante a Don na superfície. Parecido com o que Don poderia ser não fosse seu passado obscuro e origem humilde. É o que melhor aproveita os prazeres que o trabalho pode fornecer.

Mad Men - Confira a análise completa da série - Roger Sterling

Joan Holloway (Christina Hendricks): A chefe das secretárias da agência, é uma mulher sensual e decidida. Luta para ter seu trabalho reconhecido além da beleza. Uma personagem muito importante para as análises temporais que a série faz além de combinar cem por cento com a essência da história.

Mad Men - Confira a análise completa da série - Joan Holloway

Pete Campbell (Vicent Kartheiser): Um homem emocional e mesquinho que melhora muito como pessoa ao longo da série. Inveja muito Don e o copia por muitas vezes, até mesmo em seus erros. Não detém a resiliência e desapego que homens mais velhos e experientes que ele, que já sofreram mais, têm.

Mad Men - Confira a análise completa da série - Pete Campbell

6. POR QUE PODE SER A MELHOR SÉRIE DE DRAMA DE TODOS OS TEMPOS?

O que faz uma história de drama funcionar é o que nos deixa sentir que aquilo poderia ser real e com isso nos permitir sentir emoções e pensar sobre o que estamos vendo. E Mad Men caminha nas raias da perfeição quando se trata disso. A vida quase nunca segue um padrão. Coisas importantes se resolvem rapidamente e coisas pequenas demoram a se desenrolar. A linha do que acontece na realidade nem sempre é reta e as curvas são muitas vezes imprevisíveis. Quem está em cima cai ou sobe mais e quem está embaixo ascende ou decaí mais ainda. Nos encantamos muito por pessoas que vão embora rapidamente e temos de lidar anos com quem não gostamos.

E Mad Men sabiamente conhece tudo isso e coloca em seu roteiro. Mad Men é imprevisível e está longe de dar uma justificativa a tudo que acontece ou fechar ciclos que inicia. Não é uma série indicada a pessoas imaturas que desconhecem as peças que a vida nos prega ou quem não tem os pés no chão sobre as proporções de zonas a que somos jogados. Alguns podem chamar a série de lenta, mas simplesmente porque estão acostumadas a séries de histórias. Mad Men não o é. Ela é um profundo estudo de personagens onde cada segundo de episódio nos permite conhece-los melhor enquanto fazem suas vidas caminharem. Dentro do que a série se propõe a fazer, ela é campeã.

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O que vemos são personagens fictícios comprometidos a um contexto realista. De bônus somos jogados a uma trilha sonora impecável comandada por David Carbonara e uma produção riquíssima que nos transporta aos anos sessenta com fidelidade. Até mesmo o posicionamento da câmera ajuda a contar a história ou faz referência a outro momento anterior. Sutileza é lei em Mad Men.

Mas tudo isso são os ramos da árvore que é o que a série tem a nos indicar, ao final das contas, mesmo com tanta aleatoriedade e que justifica o período histórico em que se passa e o por quê aparentemente se tratar sobre publicidade: a relação do que somos com o que aparentamos ser! A série fala sobre publicitários cujo trabalho é definir através de propagandas o que é felicidade, sendo que eles mesmos lutam para encontrar na própria vida.

Don Draper é um homem que fugiu da própria história assumindo uma nova identidade. E apesar das conclusões de objetivos, ele não conhece a paz e viveu em luta contra si mesmo. Don não é apenas o status, o dinheiro, a família, as belas mulheres. Don Draper ou Dick Whitman é apenas um homem. O homem que sua melhor amiga Anna M. Draper conhecia tão bem e que Peggy Olson testemunhou algumas vezes. A trajetória de Don na série não é por conquistas grandiosas ou premiações publicitárias, mas pela paz interior ao aprender a lidar com os próprios demônios e desapegar das superficialidades como fuga aos problemas que estavam dentro dele mesmo.

Don não precisava abrir mão das próprias conquistas, mas sim parar de usá-las como porto seguro para fugir do próprio passado. E foi através do cumprimento dessa meta que ele alcançou paradoxalmente, no final da série, sua maior conquista profissional.

Enquanto todos os demais personagens ao longo da série tentavam crescer profissionalmente ou financeiramente, Don Draper que já conquistara tudo isso tentava, na verdade, evoluir em apenas um ponto: o aspecto humano.

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