Um Contra Todos | Review do 1º episódio da 4ª temporada

Um Contra Todos - Review do 1º episódio da 4ª temporada

Com homenagens que vão desde Poderoso Chefão a Scarface, passando por Narcos, ‘Um Contra Todos’ é o mais próximo que o Brasil chegou das obras de Scorsese.

A realidade do crime no Brasil é algo que o cinema tupiniquim sempre abordou. Principalmente quanto à realidade da periferia do Rio de Janeiro e a luta diária dos policiais. O auge de qualidade e sucesso talvez seja Tropa de Elite. Os dois filmes dirigidos por José Padilha, porém, se assemelham em ritmo narrativos a filmes como os da trilogia Batman de Nolan.

Um Contra Todos, porém, segue um apelo mais dramático e um roteiro menos funcional do que os filmes e séries brasileiras sobre a violência. Um Contra Todos é uma história de origem de um homem jogado em um mundo violento e acaba ascendendo em seu meio a trancos e barrancos, enquanto sua vida pessoal e seu trabalho criminoso se confrontam entre si.

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O protagonista Cadu é o típico homem normal que através das adversidades aprende mais sobre si mesmo e adota uma nova postura em um meio ao qual não é acostumado. Porém, mesmo vítima das adversidades, ele não se nega a fazer o que deve ser feito para concluir seus serviços e encontrar a paz. A atuação de Júlio Andrade lembra muito a de Al Pacino tanto em nos permitir conhece-lo melhor aos poucos – Poderoso Chefão – como no modo em que não se abstêm de curtir os prazeres que sua vida criminosa lhe fornece – Scarface.

Cadu é um homem rumando a uma posição de poder, com um mentor do crime preparando-se para tomar o seu lugar. Como vemos nas cenas do presídio quando Cadu vai visitar seu sogro e este lhe diz como ele deve lidar com os desafios de liderar um cartel criminoso. Muito semelhante às reuniões que o Michael Corleone de Al Pacino tinha com o Vito Corleone de Marlon Brando.

Um Contra Todos - Review do 1º episódio da 4ª temporada

Vemos na cerimônia de casamento do protagonista com sua esposa PepitaJúlia Conrad – um homem feliz com suas conquistas e que sabe aproveitar o momento. Na prévia do próximo episódio Cadu aparece visitando os Estados Unidos e conhecendo o lado luxuoso e extravagante do país, muito parecido com o retrato que temos dos States em Scarface. Até mesmo na abordagem sobe sexo e drogas. A série é o mais próximo que as produções brasileiras já conseguiu chegar do estilo de Martin Scorsese: as relações diretas e quase familiares entre profissionais do crime. Como no diálogo entre Cadu e seu braço direito (ChinaThogun Teixeira) onde agradece o comparsa pelos serviços prestados e diz o quanto confia nele. Confiança, aliás, é algo sinuoso muito tratado em filmes e séries desse gênero, onde uma proposta tentadora pode acabar com antigos laços de lealdade. O roteiro poderia muito bem ser algo escrito por Scorsese, se tivesse um ritmo mais lento e suave.

Os demais atores parecem saber o que seus papéis lhe pedem tanto em momentos calmos como os de tensão. Vale ressaltar a parte de Silvio Guindane que em seu curto – mas importante no roteiro – momento, mostrou um grande talento e controle de personagem. Assim como Roberto Birindelli, cujo discurso não só fez uma homenagem clara a Marlon Brando em Poderoso Chefão, como apresentou o cerne motivador em histórias de crime: a Pax Romana.

O termo, que significa “Paz Romana” veio do país a que se refere e significa a paz através do controle do poderio de armas, dinheiro e homens. Nas histórias de máfia ou de gangue, todos os chefes chegam onde chegaram através de estratégias violentas mas quando atingem o topo, querem permanecer ali de forma pacata. E para isso deixam claro a sua influência para barrar os demais que querem desbanca-lo como ele o fez outrora. Algo muito discutido no principal filme de Francis Coppola.

Até mesmo os valores masculinos e a proteção à família é tratada no primeiro episodio da temporada, onde Cadu planeja fugir da vida criminosa e viver normalmente na fazenda preso ao lado de sua esposa. Porém, quando a fazenda é atacada, Cadu se vê obrigado a abraçar mais uma vez o velho estilo de vida de retaliação. (Alguém lembrou de Vito Corleone tentando ter uma vida simples na Europa ao lado da mulher e sendo obrigado a voltar e liderar a máfia italiana em Nova York?)

A outra história que nos é apresentada, a de sua ex mulher Malu, interpretada por Julia Lanina, é mais sutil. Ela faz fisioterapia para voltar a caminhar normalmente, enquanto tenta administrar garotas de programa sem deixar que sua condição debilite sua liderança ou sua visão de si mesma.

Um Contra Todos - Review do 1º episódio da 4ª temporada

O episódio tem um ritmo bem distribuído e momentos bem aproveitados. Temos uma ambientação fortemente latina dos nossos países vizinhos, no caso a Bolívia. O que cai muito bem em uma série que já se ambientou em presídios e até no Congresso Nacional. E isso nos faz lembrar de Narcos, bebendo da mesma fonte: criminosos armados secretamente donos de vastos terrenos em meio às florestas e campos latino-americanos.

Apesar do primeiro episódio da quarta temporada ter momentos muito bons, não foge da previsibilidade e os momentos de atuação fraca de alguns atores menos importantes, auxiliados por um roteiro que destaca os pontos importantes e ignora os momentos auxiliares, deixam a desejar. Porém o futuro da série é promissor e se apresenta como um ponto fora da curva ao se aproximar mais do estilo hollywoodiano de contar histórias e mereceu as categorias de premiação em que concorreu.

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