O Escândalo | Crítica
Sobretudo, “O Escândalo” é um filme necessário!
Grande parte das pessoas acompanharam a onda “Me too” em que mulheres se uniram num ato sororidade para denunciar casos de assédio sexual, desde então, filmes com empoderamento feminino vem ganhando força e espaço, com “O Escândalo” não foi diferente. O longa garantiu 03 indicações ao Oscar incluindo o de Melhor Atriz para Charlize Theron e Melhor Atriz Coadjuvante para Margot Robbie; e são estas potenciais personagens que eu destaco.
Na trama, a âncora de alto escalão da Fox News Megyn Kelly (Theron) se vê alvo do candidato presidencial Donald Trump, depois dela enfrentá-lo sobre seus comentários sexistas. Irritando a base eleitoral de Trump, Megyn vê seu mundo virar de ponta cabeça, mas o verdadeiro estopim é quando descobre que a colega demitida Gretchen Carlson (Nicole Kidman) entrou com uma ação contra o chefe de rede Roger Ailes (John Lithgow), acusando-o de assédio sexual.
Kelly, que também tem um trauma relacionado a Ailes, fica insegura em se expor ainda mais. Em contraponto há Kayla (Robbie), uma âncora aspirante ingênua, que aprenderá em primeira mão como o devasso Ailes comanda a lealdade de suas subordinadas.
Trio bombástico e efetivo
Baseado em fatos reais, “O Escândalo” é um filme dependente de boas performances. A primeira vista parece ser impossível ter simpatia com um ambiente utra-conservador, ideais regressivos, onde as protagonistas são mulheres loiras, padronizadas, de pernas longas e cílios grossos. Mas isso muda a medida que entendemos a complexidade do trio de mulheres, seus conflitos e ambições. Por outro lado, o longa não se dedica a “humanizar” o antagonista Roger Ailes, só vemos o seu lado sombrio, silencioso e… nojento; ainda sim, a atuação de Lithgow é memorável.
São nos diálogos que “O Escândalo” comunica efetivamente quão nocivo pode ser um ambiente de trabalho tóxico para as mulheres (e olha que no caso elas eram brancas). Testemunhamos como o assédio não afeta simplesmente as envolvidas, o silêncio e o medo consomem todos ao redor da pessoa. O filme cumpre o papel de mostrar o drama compartilhado por todas as funcionárias da Fox News – até as que seguem cegamente a direção de Ailes por medo de represálias.
Abuso, sexismo e #MeToo
“O Escândalo” descreve essa cultura sexista de maneira um tanto agressiva, sugerindo que algumas das mulheres participam voluntariamente de sua própria objetificação ao justificarem seu acatamento à pressão reclamando do mercado de trabalho competitivo (e sabemos que vai muito além disso). Uma das cenas mais angustiantes é quando Kayla bate à porta de Ailes com um sorriso vibrante e inocente no rosto, a essa altura do filme já sabemos da reputação de Roger e já premeditamos que o pior pode acontecer. E é quando Ailes pede para que ela suba o vestido que sentimos na pele o que é o silenciamento e a total sensação de incapacidade.
O filme tem a aparência de “The Post” e “Spotlight”, percorrendo a redação e os escritórios corporativos como um guia turístico. O ritmo e a pouca originalidade nas vozes narradas não atrapalham sua unidade temática. O diretor Jay Roach mirou em muitos gêneros ao longo dos anos, mas me surpreendeu com um filme sóbrio e objetivo.
Digno de Oscar? É meio pretensioso dizer. O que posso garantir é que “O Escândalo” reproduz um ambiente e comportamentos danosos junto a um diálogo extremamente necessário. É tão difícil atrair olhares para causas como essa e o filme chega a ser a isca perfeita para conservadores de plantão se sentirem “representados” por seus padrões. As cenas finais desmontam falas proliferadas pela normalização de um patriarcado (o famoso “entendeu ou quer que eu desenhe?) e faz acreditar que por mais clichê possível, juntas somos mais fortes.
O Escândalo
Dirigido por Jay Roach
Com Kidman, Robbie e Theron
Violet Crown, Regal 14, R, 109 min.