Coringa: Delírio a Dois | Crítica
Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux) assim como seu antecessor gerou debates e opiniões divergentes. Ou seja, principalmente com a tentativa de transformar a história em uma espécie de musical sombrio. Algo que de certa forma combina com a estética de uma cidade como Gotham. Isso, aliado às performances intensas de Joaquin Phoenix (Coringa) e Lady Gaga (Harleen Quinzel), apresentando ao público uma experiência cinematográfica única. Além disso, para os fãs mais assíduos, uma experiência complexa e recheada de referências à mitologia do personagem.
A Trama
Coringa: Delírio a Dois uma sequência ousada que expande o sombrio universo do primeiro filme, principalmente quando voltamos nossa atenção para a nova forma que o filme explora a “doença mental” do personagem, se aprofundando ainda mais na exploração da condição de Arthur, especialmente do ponto de vista de seu alter ego, o Coringa. A nova relação entre a realidade e a fantasia, a fragilidade mental e a construção de uma identidade para, de certa forma, fugir da dura e triste realidade são temas abordados sem rodeios e de forma intensa. Isso, somado à dinâmica entre Coringa e Arlequina, é um dos, se não o ponto mais alto do filme.
A dinâmica caótica e apaixonada entre os dois, ou talvez apenas um dos personagens, adiciona uma nova camada à história. Principalmente quando se olha para a “nova” crítica social que, assim como seu antecessor, aqui o espectador agraciado com uma crítica social incisiva, explorando ainda mais a desigualdade, a alienação e a fragilidade do sistema, principalmente quando se trata da saúde mental dos membros de uma sociedade moderna.
Atuações
As atuações de Phoenix e Gaga conseguem, sem dúvidas, entregar performances visceralmente intensas, evidenciando que ambos mergulharam de cabeça em seus personagens complexos e perturbados. A química entre os dois é palpável, principalmente quando se trata de Arthur (personagem de Joaquin). Ou seja, o que eleva o filme a outro patamar, apresentando uma nova forma de ver o personagem de forma mais realista e complexa, principalmente por permitir que haja espaço para debate sobre a romantização de alguns aspectos do personagem, brincando entre o até onde temos uma vítima e em que ponto temos um “vilão”.
A fotografia e direção de arte do longa agraciam o público com visuais impactantes. A estética do filme é marcante, com cores vibrantes e cenas que evocam um sentimento de caos e loucura. A direção de arte e a fotografia contribuem para uma atmosfera única que realiza um amálgama com toda a ousadia do diretor, que traz uma transformação em seu universo em um musical, embora sendo um dos motivos da divisão de opiniões, demonstra claramente uma ambição dos criadores.
Proposta Ousada
Em contrapartida, a coerência narrativa deixa a desejar em alguns pontos: a transição entre os momentos musicais e os momentos mais realistas da narrativa, em certos pontos, é abrupta, o que acaba tirando o público de sua imersão e prejudicando a conexão com o universo e personagens da obra. O excesso de violência, que vem de maneira gráfica e gratuita, pode ser excessivo para alguns espectadores. Isso, somado à falta de profundidade da história, que mesmo visualmente impactante, carece de uma profundidade maior, com personagens complexos que não são totalmente desenvolvidos, principalmente quando se coloca em pauta a relação entre o Coringa e a Arlequina, que aqui, apresentada de forma romantizada, o que se torna um problema ao considerar a natureza mental de ambos os personagens e a forma como o filme carece de explicações e motivações para os mesmos.
Em suma, “Coringa: Delirio a Dois” é um filme que desafia as convenções. Provoca a audiência, e, sem dúvidas, a ousadia da proposta é admirável. Contudo, a execução nem sempre é impecável. O longa dotado de uma história interessante que, sem dúvidas, poderia ter sido explorada de forma mais profunda. É um filme polarizador e vai agradar mais a quem aprecia filmes com uma estética visual forte e performances intensas.