Crítica “A Farsa”
Crítica – A Farsa – 2022 – Nicolas Bedos.
A Grande Riviera é um lugar ensolarado cheio de pessoas sombrias. Essa frase sintetiza muito bem o clima do filme em que nos mostra personagens que vivem em um lugar luxuoso, ponto turístico por ter uma paisagem deslumbrante da natureza aliada à arquitetura urbana, habitado apenas pela elite.
Aqui a história gira principalmente em quatro personagens que estão envolvidos em uma trama cheia de consequências e surpresas para todos. Martha (Isabelle Adjani), uma atriz conceituada e reconhecida na sua área, que tem renome. Porém está muito tempo sem pisar nos palcos e está vivendo uma nova vida de divorciada após descobrir uma traição do seu ex-marido.
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Ela vive no conforto tentando se conformar com a separação. Mas isso tem sido um martírio para Martha, pois ela se sente mal, frustrada e colecionando gigolôs na tentativa de esquecer o seu casamento. Sendo assim, em paralelo há também Simon, herdeiro da corretora de imóveis da sua família e que tem muitos problemas em lidar com seus colegas de trabalho e com o empreendimento.
Os dois são alvos de Adrien e Margot. Um casal que vive uma paixão acalorada e que tem como objetivo dar o golpe do baú em Simon e Martha.
A Farsa
“A Farsa” começa com um recurso interessante, logo de cara somos expostos a um acontecimento impactante, Margot levando um tiro no ombro. Depois disso, tudo é história, é claro. Uma boa estratégia para fisgar o espectador logo de início e prendê-lo em todo quebra-cabeça da trama, tudo é bem planejado.
No filme, Margot se aproxima de Simon fingindo ser uma compradora do apartamento, tudo isso com a ajuda da Júlia, que é uma outra mulher frustrada pois foi expulsa do próprio empreendimento que construiu. Ela usa as suas artimanhas para conquistar Simon e ganhar a sua confiança e dar o xeque-mate, um divórcio milionário. O mesmo acontece com o gigolô Adrien que dedica seus dotes sedutores à Martha tentando se aproveitar de sua fragilidade.
O longa apresenta um painel de personagens muito claro, dois são vulneráveis e os outros dois aproveitadores. Martha e Simon são colocados como vítimas, alvos fáceis para uma escalada social, mas isso é tão marcado que chega a ser clichê. Usam todos os elementos possíveis, a femme fatale, sedução, planos mirabolantes para personagens ingênuos.
Conexão
A falta de manejo com tais recursos impediu um pouco a identificação com o público, pois são caricatos, parte de uma satirização sem humor e sem nenhum fio de empatia. Simon, por exemplo, poderia ter seu backstory e relação familiar mais explorado, já que é essa a razão de todo seu problema, já Martha, que tinha um enorme potencial de sobressair em meio sua fraqueza, nessa configuração, torna-se apenas uma mulher histérica cheia de birras.
Talvez o que seja o maior acerto é a estrutura do filme que vai sendo montada como um quebra-cabeças. Ou seja, não muito difícil, a partir dos depoimentos no julgamento, investigação do caso em andamento e ponto de vista das testemunhas e dos advogados. Além dos artifícios técnicos como a trilha sonora e fotografia que montam uma atmosfera incrivelmente viva, contrastando com o clima pesado dos personagens.
Outro ponto interessante é como a juventude é trabalhada no filme. A busca pela vitalidade é a grande tônica do longa que explora isso muito bem com as lembranças de Martha e vigor de Simon em ser desejado por uma mulher jovem. É mais que sexual, é um entusiasmo que ficou no passado, mas que é acionado o tempo todo por essas pessoas através da memória de forma melancólica.
Em suma, o que me leva a outro (e último) ponto não tão interessante é que não há comédia nesse filme. Há uma tentativa frustrada em tirar risadas do público, mas não há nada que possa ser texto de humor inteligente, mas sim um melodrama tal qual ele é: mediano.
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