Matrix Resurrections | Retorno é preguiçoso e anêmico
É inegável que sempre houve uma incógnita na cabeça dos fãs da franquia se seria plausível ou não uma revisita ao universo de Matrix. Porém era um considerável consenso que isto só deveria acontecer sob a forma de uma boa ideia. E pode-se dizer que havia uma boa ideia para justificar Matrix Resurrections, porém passou longe de ser bem executada.
| Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa é INCRÍVEL!
De cara somos apresentados a uma revisita a uma cena clássica do primeiro filme; só que sem o mesmo brilho da época. Então, as primeiras coisas estranhas já aparecem aí. Um prólogo é um recurso muito datado e as cenas de ação que ali aparecem são fracas e sem propósito. E é esse ritmo que permeia boa parte da produção.
Somos inseridos na vida do Neo (Keanu Reeves). E o primeiro ato é de longe o melhor de todo o filme. Nos instiga a tentar entender o que levou Neo a conviver naquele contexto, mostrando um grande potencial narrativo, enquanto a produção dá alfinetadas em sua própria concepção, quebrando indiretamente a quarta parede. Mas nada de forma inteligente ou com o humor afiado de produções que costumam fazer esse tipo de piada metalinguística que estão na moda hoje em dia como Rick e Morty, por exemplo. A impressão que se dá é que Lana Wachowski, a diretora e roteirista deste novo Matrix, esteve totalmente por fora das tendências de roteiro desde o fim da trilogia da saga.
Era necessário?
Não se vê mais genialidade numa obra por simplesmente ela criticar algo em si mesma, pois isso já se viu inúmeras vezes. Hoje em dia se admira, principalmente, a forma como essa crítica é realizada. E assim mais um potencial em Matrix Resurrections é desperdiçado. E esse “atraso” aparece em várias formas. Neo, por exemplo, é aqui um programador de games e simplesmente aparece em um setup gamer da forma mais genérica possível, tão clichê quanto a equipe de marketing da empresa à qual trabalha, com pensamentos unidimensionais que dão forma à auto critica do filme.
| Pânico é a continuação perfeita!
Logo então, não existe aqui uma alfinetada espirituosa ao uso das tecnologias atuais fazendo um paralelo com as tecnologias dos três primeiros filmes de Matrix, que evoluíram e nos deixaram mais dependentes. Contudo, tal proposta pareceu existir apenas nos trailers. Trailers esses que respeitaram a essência do filme no quesito de autoreferência. Um filme que precisa, sem uma causa plausível, mostrar cenas diretas de seus anteriores, simplesmente parece não valorizar a importância de si mesmo para com o público, obrigando-se a “refrescar a memória” de quem assiste. Não precisamos ver cenas cuspidas em tela de grandes clássicos do cinema para saber ao que seus novos filmes se referenciam. É um erro básico que Matrix se orgulha em evidenciar, o que reforça a teoria de que o filme é ruim propositalmente…
Escolhas sem peso
Quando a trama começa a se desenvolver e responder às próprias perguntas, tais respostas não empolgam. Assim, toda a luta pela qual a resistência de Zion passou anteriormente é desvalorizada já que a nova cidade, Io, está em situação semelhante à sua antecessora, com a diferença de contar com a ajuda de máquinas clichês que se vê em qualquer filme do gênero.
Io, aliás, é completamente mal apresentada e os poucos personagens que nos apresenta são sem carisma, resumidos em boa parte a meros coadjuvantes. A que mais se destaca é Jessica Henwick, que é uma atriz muito esforçada. Além disso, outra atuação desperdiçada é a de Neil Patrick Harris que faz um vilão totalmente caricato, com direito a explicação confusa e maligna de seus planos mirabolantes. Carrie-Anne Moss parece estar incomodada com o próprio papel.
Ação que não inspira
As trocas de atores tem uma explicação que não convence a ninguém e prejudicam muito os personagens; não por culpa de seus intérpretes, mas pela direção – que não se preocupou em guiar uma atuação fidedigna – e do roteiro. Nada em Matrix Resurections tem peso. As dificuldades duram pouquíssimo tempo e as soluções são totalmente deus ex-machina; além de planos mirabolantes e importantes para a trama .
As cenas de ação, antes tão inspiradas nos demais filmes da saga, aqui se resumem a cenas genéricas onde tiros não são acertados sem explicação; golpes são repetitivos e super poderes conseguem resolver qualquer coisa sem a presença de uma trilha sonora empolgante como outrora. O drama neste filme motiva a trama; mas rodeado de referências aos outros filmes e pelo modo clichê com que aparece. Mais parece que estamos presenciando a adaptação cinematográfica de uma fanfic onde o romance de Neo e Trinity toma uma importância exacerbada para o próprio conceito da Matrix como um todo.
No quarto filme da franquia, as perguntas são muito melhores do que as respostas; qualquer resquício de boas ideias é apagado. As insistentes e diretas auto referências não mascaram o óbvio: Matrix Resurrections não está à altura da própria franquia e chega a ser uma ofensa para o primeiro filme; um dos melhores elementos da história do cinema.
Em suma, faltou inspiração, perícia e um senso de modernidade. Roteiro preguiçoso, cenas de ação que não empolgam, erros básicos e auto crítica óbvia permeiam toda a duração de Matrix Resurrections.
Pingback: The Kardashians | Star+ lança trailer da série - Pipocando Notícias