Segredos de um Escândalo | Crítica
Segredos de um Escândalo – “Tramédia” é um estudo psicológico de personagens em trama novelesca.
Alguns produtores estudam o que pesa nas decisões da crítica especializada para conquistar prêmios. O problema é quando os filmes destes produtores sacrificam a própria história para arranjar desculpas para colocar monólogos overacting e maquiagem pesada. Tais artifícios devem servir aos filmes e não os filmes servir a estes artifícios. Alguns exemplos que me vêm à cabeça são “Nocaute”, que suga grandes performances de seu poderoso elenco em uma trama vazia de substância e “Era uma vez um sonho”, que pega pesado nas atuações e na maquiagem. Coincidentemente ambos os filmes parecem deixar claro em que categorias pretende concorrer. Mas o que é óbvio pode ser um tiro saído pela culatra.
| Os Rejeitados – Uma Jornada de Empatia e Auto-Reflexão
E “Segredos de um escândalo” não escapa deste problema – mas quase o faz. O roteiro decide caminhar pelas raias do suspense ao apresentar seus personagens e enredo aos poucos. O sentimento de que existe algo errado o tempo todo e que algo pode eclodir a qualquer momento nos acompanha ao longo de todo o percurso.
Elenco
Acertadamente a protagonista Elizabeth Berry – Natalie Portman – começa com uma personalidade contida e observadora, mas muito dedicada ao trabalho. Quase como uma investigadora silenciosa que nunca revela o que de fato está pensando. E, conforme vai se sentindo segura no ambiente em que está inserida, começa a mover sutilmente algumas pecinhas e observar a reação que isso causa. E o seu envolvimento pessoal vai evoluindo juntamente ao nosso enquanto a observamos ter dificuldade em separar seu lado profissional do pessoal.
Julianne Moore entrega uma Gracie Atherton-Yoo com tantas camadas quanto o passado da personagem pode ter. Uma mulher que parece segura em seu castelo montado sobre um chão quebradiço onde a cada rachadura que aparece na parede, ela lembra o quanto aquela segurança pode ser falsa.
Enredo
Em “Segredos de um Escândalo” acompanhamos a atriz Elizabeth Berry indo passar uns dias próxima a Gracie Atherton a fim de entender in loco os bastidores de uma história polêmica e a forma como isso repercutiu na vida dos envolvidos nela além de sua personalidade e trejeitos para remonta-los em um filme sobre o caso. Gracie, aos trinta e seis anos, teve um caso com um amigo de seu filho, da mesma idade dele: treze anos. A mesma acabou sendo descoberta e foi presa. Mas ela engravidou do garoto e teve o seu filho na cadeia.
O menino, Joe, assumiu que foi consensual e casou-se com Gracie. E juntos tiveram outros filhos. O assunto foi um escândalo e mesmo depois de vários anos ainda existem sequelas que se espalharam em maior ou menor grau em todos os envolvidos no local, como os estilhaços de uma granada.
Joe, vivido por Charles Melton, é um homem que finge não ter sequelas pelo que aconteceu ao adotar uma postura neutra. E mesmo o personagem demorando para demonstrar seus sentimentos, é possível ver verdade cênica em Charles. Mostrar sua competência cênica em um personagem pouco expressivo pode ser mais dificultoso do que convencer em momentos carregados de emoção.
Enigma?
Segredos de um Escândalo planta pistas e conhecimentos e os reutiliza sempre no momento certo enquanto a trama se desenrola de fora para dentro como a teia de uma aranha. Atuações e roteiro caminham de mãos dadas e isto justifica a indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original – mesmo a história tendo seus fundamentos baseados em fatos.
E o que justifica as não-indicações aos finalistas nas categorias de atuação talvez seja o modo pouco sutil como a competência de Natalie Portman e Julianne Moore foi utilizada, o que nos remete ao problema inicial citado no começo da crítica. É gratificante ver cenas longas e sem cortes com a interação de grandes atores. Mas é melhor ainda quando estes momentos são bem justificados no filme. Apesar da cena das protagonistas se maquiando de frente para o espelho ser esplendorosa – e provavelmente o ponto alto da película – as demais cenas em plano sequência parecem pouco justificar o seu recurso. Principalmente um longo monólogo de Natalie Portman em frente à câmera em que apesar de não ser realmente um momento solto na história, parece muito ter sido feito para ficar na cabeça dos críticos na hora de fazer as indicações para as premiações e nada mais.
Em suma …
A principal música da trilha sonora, no início parece ser muito intrusiva e demasiado dramática para momentos normais, mas logo demonstra ser parte do senso de humor do enredo. Como se víssemos uma paródia de comédia de um filme dramático que contasse uma historia real. E o humor no caso é do tipo vergonha-alheia, beirando as raias do absurdo, como um The Office só que de drama.
Apesar do final simples pensar dizer mais do que realmente diz, ao longo da duração o filme pega na nossa mão e nos leva por um caminho muito interessante de estudo de personagens, do qual imagino que psicólogos adorariam estudar.
Segredo de um Escândalo já está em cartaz nos cinemas!
Pingback: Filme 'Cedo Demais' ganha trailer oficial - Pipocando Notícias
Pingback: Elvis chega ao HBO Max - Pipocando Notícias