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Mais que Amigos | Um filme mais que necessário

Mais que Amigos (Bros) é uma comédia romântica LGBTQIAPN+ que chega nos cinemas quinta-feira (06) e com certeza vai te arrancar boas risadas. Aos não muito empolgados com o gênero, principalmente desse nicho, aconselho a se despir de todo preconceito e embarcar junto nessa história de amor sensível, cheia de bom humor e novas descobertas.

Na história, Bobby Leiber (Billy Eichner) e Aaron (Luke Macfarlane) são dois homens com problemas amorosos que descobrem que é possível encontrar o amor em meio à loucura. Eles entram em um relacionamento surpreendente, diferente de tudo que já viveram com outras pessoas antes.

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Após o final da sessão, só tive um único pensamento: PRECISAMOS DE MAIS FILMES COMO ESSE! Mais que amigos é uma romcom que não abandona a comédia, realmente me fez rir e trouxe à tona uma dura realidade quando se trata de aplicativo de encontros. De quebra, ainda me fez chorar com toda carga emocional que é trabalhada nas camadas dos personagens.

APLICATIVOS DE ENCONTROS E A “LIBERDADE”

Aplicativos de encontros estão cada vez mais em alta. As pessoas se agradam com encontros sem muitos interesses e compromissos além da satisfação sexual. Em Mais que Amigos essa atmosfera é uma escolha temática que se desenvolve de forma leve, engraçada e ao mesmo tempo nos dá um xeque-mate. Nos convida a refletir sobre os prazeres momentâneos e a solidão.

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Inseridos em um universo em que a galera prefere as aventuras excitantes que esses aplicativos proporcionam, o sexo sem compromisso e a rotatividade de encontros, o filme nos apresenta outras perspectivas: será que as pessoas realmente gostam da liberdade ou será que elas têm medo do novo? Medo de entrar em um relacionamento e de tudo que vem após? E com esses questionamentos que os personagens tencionam o conflito entre a vida real ou uma solidão fantasiada de liberdade.

Bobby (Billy Eichner), homem gay de aproximadamente 40 anos, bem sucedido, tem seu podcast e está prestes a virar diretor do primeiro museu LGBTQIA+ dos Estados Unidos. Mesmo com sua ótima vida profissional, Bobby se vê sua vida pessoal cada vez mais monótona. Utilizar os aplicativos gays para encontros casuais se torna cada vez mais frustrante e desinteressante. Tirando cada vez mais a sua vontade de viver um relacionamento.

Aron (Luke Macfarlane), homem gay, também com uns 40 anos, advogado, trabalha com escriturários. Completamente fora do meio LGBTQIA+, sem conhecer o movimento e suas causas, diferente de Bobby, prefere algo casual, sigiloso e não busca relacionamento.

Entre poucas palavras, mensagens de textos e encontros (e desencontros), ambos começam a perceber uma conexão diferente quando estão juntos. E assim, começam a se questionar: “será que existe espaço pra alguém em minha vida?”.

REMEMBER WHO YOU ARE

Mais que Amigos serve referências à comunidade LGBTQIAPN+. Traz uma bagagem de informações de toda a cultura, os ícones que jamais devem ser esquecidos e levanta a bandeira de forma magnífica com uma linguagem clara e objetiva. O que me fez gostar da comédia, é o fato de mostrar como realmente funcionam as questões mais “picantes” dentro da comunidade gay. Sem precisar diminuir tais questões para aqueles que não fazem parte da comunidade entender mais o filme.

Temos  uma história de amor entre dois homens gays e situações comuns em um relacionamento homoafetivo.

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Fugir dos padrões heteronormativos nunca deixou de ser difícil, pois as pessoas se incomodam e o preconceito segue pleno mesmo em 2022. Temos que aguentar o preconceito por parte de desconhecidos, de “amigos” e da família (não tem dor maior de ser negado pelos familiares). E muitas vezes saímos sem saber se iremos voltar.

E outro ponto que o filme aborda e que é muito real, é a forma que muitas pessoas se calam ou deixam de ser quem são por causa de outras. Deixar de ser quem você é para que o vizinho não se incomode, deixar de se vestir como gosta, por medo de violência. Deixar de ser quem você é, porque para os outros você não pode ser feliz assim, ou se maltratar a caber em um padrão só para se sentir acolhido e finalmente amado.

Não esqueça

Pessoalmente, esse filme me tocou de várias formas. Me provocou gatilhos que foram difíceis de expressar em palavras. Você se sentir excluído, odiado ou oprimido é a coisa mais horrível que existe. Viver com medo de ser quem é e causar revolta nas pessoas ou desagradar quem você ama, não é um fardo fácil de se aguentar todos os dias. Muitas vezes, você se sente um lixo, quando na verdade não está fazendo nada de errado. Neste sentido, o filme performa diversas sensações que só quem é LGBTQIAPN+, assim como eu, pode se relacionar com ele tão profundamente.

Há uma frase que sempre levei comigo, e até tatuei, é: REMEMBER WHO YOU ARE! (LEMBRE-SE DE QUEM VOCÊ É!). Nunca se esqueça disso, nunca esqueça quem você é, seu caráter e a sua essência, e JAMAIS deixe que qualquer pessoa tire isso de você.

Frase dita na animação O Rei Leão, quando Mufasa aparece nas nuvens para Simba. E ao assistir uma das temporadas de Ru Paul’s Drag Race uma das drags conta a história de sua vida e diz como essa frase a torna mais forte (me perdoem, mas não vou lembrar a temporada e episódio).

UM FILME NECESSÁRIO

O longa se torna necessário em meio a tanto preconceito e deixa claro que todas as formas de amor são válidas. Dois homens serem felizes juntos não é nenhum problemas.

Em suma, Mais que Amigos é a melhor comédia romântica do ano (ou dos últimos anos), ao romper com os estigmas dos relacionamentos homoafetivos tão explorados em outros filmes do gênero. É um convite a abrir a mente e acompanhar uma história tão emocionante e, ao mesmo tempo, muito engraçada.