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Uma Família Feliz | Crítica

Uma Família Feliz – Suspense familiar é um dos marcos do gênero para a dramaturgia brasileira!

É de conhecimento público que o gênero predominante no cinema nacional é a comédia. Seguido – de longe – por rasas produções de ação policial que vieram na rasteira dos dois filmes do Tropa de Elite. Os terrores e suspenses sempre ficaram no status de pouco conhecidos pelo público em geral, tanto por serem menos palatáveis ao público médio como pela falta de interesse de investidores/distribuidoras.

O que é realmente lamentável pois isso pode significar que “Uma Família Feliz” deva ser menos conhecido do que merece ser. Pois a excelência está em todos os detalhes em cada segundo de produção que é até mesmo superior a muitas produções gringas.

| Minha Irmã e Eu – Crítica

Particularmente creio que este filme ficaria muito mais à vista caso estreasse na Netflix, já que é o streaming mais utilizado nacionalmente e cujas produções brasileiras mais ficam conhecidas.

Uma Família Feliz

Por outro lado, Uma Família Feliz é muito mais merecedor da tela grande, já que deve ser visto ininterruptamente sem o risco de distrações externas. Pois demanda atenção e raciocínio do público o que geralmente não é cobrado em produções brasileiras.

Alá episódios policiais da série Columbo, acompanhamos o crime para depois ver o seu desenrolar, porém ainda assim com grandes pitadas de surpresa. Na trama acompanhamos Eva (Grazi Massafera), uma mulher que trabalha construindo bonecos-bebês hiper-realistas enquanto ela mesmo está grávida de seu primeiro filho. Ela é casaca com Vicente (Reynaldo Gianecchini), que já tem duas filhas gêmeas de outro casamento, mas que as tratam Eva como mãe.

Desde o primeiro momento vemos o quanto Eva parece deslocada da própria realidade aparentemente feliz enquanto vemos sorrisos forçados da mesma. Essa aparente depressão da protagonista só piora após a chegada de seu filho.

Uma Família Feliz - Crítica

QUEM??

Com filtros escurecidos e ambientes fechados quase sempre reclusos aos cômodos da casa da família, até mesmo os poucos momentos externos parecem trazer consigo a realidade acinzentada da protagonista.

Tudo fica pior quando seu bebê e uma das gêmeas aparece com marcas de machucados e elas acusam Eva. Então, isso vira a vida da família que sempre foi bonita e “feliz” como os comerciais de margarina, de cabeça para baixo. E o filme nos leva a dados momentos culpar Eva e seu cansaço e possíveis apagões de consciente e certos momentos Vicente, que tem atitudes suspeitas que podem ser acompanhados de desejos doentios.

E a mera sugestão das possibilidades causa agonia enquanto embarcamos na psique da protagonista e o seu turbilhão de emoções com as chances dela ser culpada, do marido ser culpado ou um fantasma do passado e a opinião pública que pesa sobre ela quando as fotos dos machucados de uma das gêmeas cai na internet. Sem contar que uma das duas garotas tem câncer e ainda tem que lidar com as dificuldades de ser mãe de um recém-nascido e a depressão pós-parto.

O filme planta peças aos poucos e as embaralha sem dar descanso ao público, com uma trilha sonora tão opressora quanto sua fotografia de ângulos de câmera fechados sobre os atores.

Suspense de alto nível

Grazi Massafera possivelmente pode ter entregue o papel de sua vida, com uma atuação em camadas e variações de intensidade. Reynaldo consegue convencer mesmo com um personagem quase sempre tão contido.

Talvez o filme se beneficiasse com mais tempo para trabalhar a sua própria evolução. Ou até mesmo aumentasse o leque de possibilidades, aumentando até mesmo a dificuldade de montar um roteiro coeso. Como por exemplo aumentando a probabilidade de haver algo sobrenatural envolvido naquilo tudo e justificando certos momentos que abandonam mais o suspense e caminham para o terror de sugestão. Mas devemos analisar um filme pelo que é, e não pelo que poderia ser. E o que é, já é brilhante.

Pode-se sentir falta até mesmo de um inicio que desse mais oportunidade de conhecermos mais da família de protagonistas antes dos eventos fatídicos, fazendo-nos dar mais peso à virada dos acontecimentos. Como dar valor à luz quando elas já deram lugar às trevas, o que poderia causar uma maior imersão.

Em resumo, Uma Família Feliz é um suspense de alto nível talvez sem precedentes na história do cinema brasileiro. Com um roteiro bem construído, atuações poderosas e ambientação técnica muito bem escolhida. 

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